Suas palavras
doces encheram meu peito e eu acreditei que ela estava querendo me ajudar.
Estávamos dentro
de um templo, o Templo da Harmonia, onde só eu sabia como entrar, e ela como
convidada, me seguiu.
Eu havia
sido golpeada gravemente na guerra, no único lugar que a armadura não cobria,
mas mesmo assim, ia sobreviver. Mil e uma ataduras para conter o sangue, mas a
dor não ia embora. Eu também não conseguia me concentrar para harmonizar a dor,
então iria sofrer até o ferimento se curar sozinho.
Ela ainda
me observava, enquanto me deitava numa grande mesa de pedra redonda, onde
normalmente era usada para rituais. Se ajoelhou na minha frente e ficou a
encarar a ferida, esperando alguma melhora, mas eu estava calma. Sorri e
sussurrei o nome dela, Yomi, que mesmo significando “Mundo dos mortos”, não era
má. Ela olhou para mim, com aqueles olhos brilhantes de preocupação, um azul e
o outro esverdeado. Abriu os lábios para falar algo, mas nada saiu. Começou a
olhar os vitrais, preocupada com flechas que poderiam atingir os vidros e
consequentemente, acertar nós duas.
Eu disse
que estava tudo bem. Já havíamos programado a minha morte e renascimento fazia
um mês, desde o dia que Ghanida propôs guerra à Conchita. Ela, comandante do
Grande Exército Morto. Eu, comandante do Pequeno Exército Branco.
Yomi me
olhou mais uma vez, querendo fazer bonito e falando algo em francês. Eu sorri,
os cursos estavam dando certo, e ela havia aprendido a sua 4ª língua. Era bom
para alguém da idade dela.
Segurou
minha mão. Sussurrou meu nome diversas vezes, implorando para não ter que fazer
como o planejado mas... Já era tão tarde.
E eu tão
calma... Apenas gemia baixo de dor. Yomi entendeu que não havia outro jeito.
Vou
explicar melhor...
Fazia um
mês, ela veio com a noticia da guerra. A guerra denominada como Joia Rara, que
botaria um fim às diferenças de poderes em A.R.
Mas
Ghanida é cruel. Um demônio controlador de demônios, que não pensa duas vezes
antes de matar. Ela trajava uma armadura rubra quando veio até Conchita, e estava
com uma longa e larga espada. Me devorou com os olhos e nesse momento eu
sabia... Ela ia me matar na primeira oportunidade, sem me deixar chances de
voltar à vida.
Yomi falou
então que se me matasse apenas na forma física, poderia selar meu espírito em
outra pessoa. Como o espírito de uma geração celestial tem os cabelos alvos,
qualquer mulher que escolhêssemos ia se parecer comigo. Então... Escolhemos um
homem.
Além
disso, como era lindo. Mesmo contendo olhos escuros e cabelos negros bem
longos, Kikyo era maravilhoso. Conversamos por muito tempo e eu percebi que era
a escolha perfeita.
Bem, era a
hora. Havia sons de explosões e laminas grunhindo, e estava chegando mais
perto. Iam invadir o templo. Isso apenas significava que Ghanida havia
liquidado Conchita, e isso me fez chorar muito. Muito, mas por pouco tempo,
pois os braços de minha amiga me envolveram e suas palavras de consolo
acalmaram meu espírito.
Ela disse:
“Voltarei para buscá-los ainda com vida.”
Yomi me
deixou ali, descansando, enquanto corria para o andar superior do templo. Kikyo
estava ali. Pediu para que ele descesse junto com ela. O rapaz ficou em pânico ao
me ver ferida, mas se conteve. Minha amiga explicou: Para concluir o ritual, os
corpos devem estar de alguma forma, conectados, e o recipiente deve estar
vazio.
Antes que pensar
besteira, ela já disse que um beijo já resolvia.
O rapaz
subiu sobre mim, evitando o peso do corpo tão somente por eu estar machucada.
Respirou fundo e me beijou. Eu tive de corresponder. Yomi fechou os olhos e
invocando a lança de Byakushi. Na outra mão, sacou uma katana normal.
Golpeou-nos
de uma única vez. Ele deve ter sentido muita dor, pois eu vi as lagrimas em
seus olhos enquanto sentia o calor do seu sangue escorrer sobre meu ventre. Foi
a katana que o fez sangrar, já que a lança, mesmo também tendo atravessado-o,
foi como se ela não estivesse ali. Eu senti apenas um calor quando a ponta da
arma e atingiu, mas não havia dor. Essa era a tão temida arma da deusa
Byakushi, a Morte Branca? Devo ter entendido o por que só agora.
Fechei os
olhos na mesmo hora que Kikyo morreu. Eu morri. Meu espírito foi guiado até o
coração do rapaz, mas demoraria algum tempo para despertar.
A minha
amiga botou fogo no meu antigo corpo... A Hakushiro havia partido. Partido para
sempre. Felizmente, estava desacordada quando ela fez isso, ou teria chorado
muito e estragado a beleza masculina daquele rapaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário