segunda-feira, 16 de abril de 2012

Prólogo



Suas palavras doces encheram meu peito e eu acreditei que ela estava querendo me ajudar.
Estávamos dentro de um templo, o Templo da Harmonia, onde só eu sabia como entrar, e ela como convidada, me seguiu.
Eu havia sido golpeada gravemente na guerra, no único lugar que a armadura não cobria, mas mesmo assim, ia sobreviver. Mil e uma ataduras para conter o sangue, mas a dor não ia embora. Eu também não conseguia me concentrar para harmonizar a dor, então iria sofrer até o ferimento se curar sozinho.
Ela ainda me observava, enquanto me deitava numa grande mesa de pedra redonda, onde normalmente era usada para rituais. Se ajoelhou na minha frente e ficou a encarar a ferida, esperando alguma melhora, mas eu estava calma. Sorri e sussurrei o nome dela, Yomi, que mesmo significando “Mundo dos mortos”, não era má. Ela olhou para mim, com aqueles olhos brilhantes de preocupação, um azul e o outro esverdeado. Abriu os lábios para falar algo, mas nada saiu. Começou a olhar os vitrais, preocupada com flechas que poderiam atingir os vidros e consequentemente, acertar nós duas.
Eu disse que estava tudo bem. Já havíamos programado a minha morte e renascimento fazia um mês, desde o dia que Ghanida propôs guerra à Conchita. Ela, comandante do Grande Exército Morto. Eu, comandante do Pequeno Exército Branco.
Yomi me olhou mais uma vez, querendo fazer bonito e falando algo em francês. Eu sorri, os cursos estavam dando certo, e ela havia aprendido a sua 4ª língua. Era bom para alguém da idade dela.
Segurou minha mão. Sussurrou meu nome diversas vezes, implorando para não ter que fazer como o planejado mas... Já era tão tarde.
E eu tão calma... Apenas gemia baixo de dor. Yomi entendeu que não havia outro jeito.

Vou explicar melhor...
Fazia um mês, ela veio com a noticia da guerra. A guerra denominada como Joia Rara, que botaria um fim às diferenças de poderes em A.R.
Mas Ghanida é cruel. Um demônio controlador de demônios, que não pensa duas vezes antes de matar. Ela trajava uma armadura rubra quando veio até Conchita, e estava com uma longa e larga espada. Me devorou com os olhos e nesse momento eu sabia... Ela ia me matar na primeira oportunidade, sem me deixar chances de voltar à vida.
Yomi falou então que se me matasse apenas na forma física, poderia selar meu espírito em outra pessoa. Como o espírito de uma geração celestial tem os cabelos alvos, qualquer mulher que escolhêssemos ia se parecer comigo. Então... Escolhemos um homem.
Além disso, como era lindo. Mesmo contendo olhos escuros e cabelos negros bem longos, Kikyo era maravilhoso. Conversamos por muito tempo e eu percebi que era a escolha perfeita.

Bem, era a hora. Havia sons de explosões e laminas grunhindo, e estava chegando mais perto. Iam invadir o templo. Isso apenas significava que Ghanida havia liquidado Conchita, e isso me fez chorar muito. Muito, mas por pouco tempo, pois os braços de minha amiga me envolveram e suas palavras de consolo acalmaram meu espírito.
Ela disse: “Voltarei para buscá-los ainda com vida.”
Yomi me deixou ali, descansando, enquanto corria para o andar superior do templo. Kikyo estava ali. Pediu para que ele descesse junto com ela. O rapaz ficou em pânico ao me ver ferida, mas se conteve. Minha amiga explicou: Para concluir o ritual, os corpos devem estar de alguma forma, conectados, e o recipiente deve estar vazio.
Antes que pensar besteira, ela já disse que um beijo já resolvia.
O rapaz subiu sobre mim, evitando o peso do corpo tão somente por eu estar machucada. Respirou fundo e me beijou. Eu tive de corresponder. Yomi fechou os olhos e invocando a lança de Byakushi. Na outra mão, sacou uma katana normal.
Golpeou-nos de uma única vez. Ele deve ter sentido muita dor, pois eu vi as lagrimas em seus olhos enquanto sentia o calor do seu sangue escorrer sobre meu ventre. Foi a katana que o fez sangrar, já que a lança, mesmo também tendo atravessado-o, foi como se ela não estivesse ali. Eu senti apenas um calor quando a ponta da arma e atingiu, mas não havia dor. Essa era a tão temida arma da deusa Byakushi, a Morte Branca? Devo ter entendido o por que só agora.
Fechei os olhos na mesmo hora que Kikyo morreu. Eu morri. Meu espírito foi guiado até o coração do rapaz, mas demoraria algum tempo para despertar.
A minha amiga botou fogo no meu antigo corpo... A Hakushiro havia partido. Partido para sempre. Felizmente, estava desacordada quando ela fez isso, ou teria chorado muito e estragado a beleza masculina daquele rapaz. 

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